segunda-feira, 28 de março de 2011

Maldita Segunda-Feira 28

Hoje foi um dos dias mais terríveis que eu pude ter. Sabe aqueles dias em que quase tudo dá errado? Bem, pra mim deu TUDO errado. Desde o primeiro momento em que abri os olhos, senti que o dia não iria prestar. E não prestou.

Aviso: Você ainda tem a oportunidade de fugir. O relato é longo e cansativo. Foi escrito por uma pessoa que perdeu em 2 dos seus 3 anos de ensino médio, na matéria de portugês. Caso você seja teimoso ou sádico, clique em continue perdendo o seu tempo.

A trama toda se iniciou no meu despertar matinal. Sentia um ardor e enjoo na região do pânceps. Determinado a levantar e ir atrás do meu objetivo, ignorei o incômodo de forma tão leviana que, momentos depois, me senti culpado ao perceber tamanho descaso com minha autopreservação. O tal encosto barrigal me aturdia de tal maneira que eu me via motivado a expelir qualquer gota de bile que se encontrara em minha cavidade digestiva. Não me rendi. Tomado por uma vontade interior de seguir em frente, banhei-me e arrumei-me impecavelmente como um dia qualquer. Ao me deparar com a mesa do café, sensações de extremo desconforto invadiram a minha alma. Abandonei-a do jeito que estava, ignorando o fato de estar totalmente em jejum.

Ao alcançar o patamar da rua, percebi que as condições climáticas, quase sempre aleatórias, dessa cidade deixavam-me a imaginar em qual das duas estações do ano ela ainda se encontrava. Se no verão ou no carnaval. O calor assolava como se eu pudesse sentir o sol me tocando e cozinhando minha epiderme inescrupulosamente. Saquei meus óculos de sol e adentrei no mar de lava em vapor. Porém, lembra-me só que a sensação de calor aumentava com a jornada e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar na região dos sóis eternos. A quentura me fazia delirar de tal forma que me encontrei, por várias vezes, caminhando maquinalmente ao meu destino. Só voltei à realidade assistida quando senti o frescor da loja de variedades.

O sol havia deturpado tanto a minha mente que eu não me dei conta de que a inflação houvera atingido o coração do estabelecimento. Todavia, eu estava lá pra cumprir uma etapa do meu objetivo, que deveria ser realizada custe o que custasse. Mesmo com a certeza de que o preço do serviço se encontrara absurdamente alto, puxei meu pendrive da mochila e me dirigi à moça no balcão:

- Imprime meu currículo. - Eu disse, demonstrando hábitos primitivos de educação.

- O senhor está com pressa? - Retrucou a bela jovem, parecendo não retribuir a falta de bons modos que eu lhe havia proporcionado.

- Não, não. - Menti, numa falha tentativa de remição.

O computador que serviria de base para a impressão tinha a capacidade de tirar a paciência do mais calmo monge budista dopado com antidepressivos. Sua capacidade de processamento dificilmente superaria a de uma calculadora de bolso. Todo o processo durou por volta de 20min. Nesse ínterim, o ônibus que eu iria pegar seguiu viagem rumo ao horizonte distante. O sofrimento da espera já me atingia o peito. Em contrapartida, o incômodo intestinal parecia destinado a sobrepô-lo satisfatoriamente.

O som da rua já não fazia diferença no modo em que eu analisava toda a situação. Quando me reencontrei novamente, estava sentado em um lugar ao sol, tentando organizar mentalmente horários e ações que deveriam suceder minha mudança de planos. A viagem foi tão torturosa como o tratamento rude de carrascos tomados por uma cólera sem tamanho. Acredito que nessa hora, minha consciência juunto com todas as vertentes do pensamento moderno já se haviam partido, deixando somente resquícios de um superego totalmente voltado à conquista do objetivo.

Ao desembarcar, caminhei na direção do meu destino, sem mesmo reparar nos produtos à venda pelo caminho. Cheguei rápido a ele, porém a fila de espera parecia querer me expulsar do recinto. Não me intimidei. Postei-me atrás do agora penúltimo indivíduo e pacientemente esperei. Quando finalmente fui atendido, entreguei meus dados, na esperança de conseguir uma entrevista. Não foi isso que aconteceu. Ordinariamente, o atendente me avisou que não haviam vagas de acordo com o meu perfil. Apesar de não acreditar no sistema da empresa, decidir aceitar e avançar até o próximo agente intermediador, localizado a alguns quilômetros dali.

Sendo torturado novamente pelo sol, caminhei por milhas e milhas sem mesmo enxergar a linha do horizonte. Minha calça já não se segurava em meu corpo, devido à perda de calorias. Meus olhos já não levantavam. Mas eu segui em frente. Cheguei no lugar como se tivesse voltado de uma guerra. A única diferença é que eu não carregava uma arma. Porém, a sensação de cansaço, fome, dor, sujeira, estresse e qualquer fator negativo era a mesma. Sumamente tentei ignorar esse fatores e me dirigi à porta do lugar. Quando a abri, percebi que, naquele lugar, a física havia sido ignorada. Havia mais gente por metro quadrado do que toda a população da China confinada no Vaticano. O lugar (acredito que esse termo só se aplique a líquidos) transbordava pessoa. Fechei institivamente a porta.

Já me sentindo derrotado pelo destino, decidi que o melhor seria desistir e ir pro colégio. Contudo, o karma também não deixou isso barato. Ao alcançar o ponto, ainda me restav uma dúvida: o ônibus para nesse ponto? Bem, eu só obtive sua resposta depois de esperá-lo muito e vê-lo passar por fora tão rápido que tive a sensação que suas cores mudaram devido ao efeito doppler. Isso me fez querer gritar "vida de merda" o mais alto que eu conseguir, chutando e destruindo tudo ao meu redor. Mas eu falei que não. Que o karma não iria vencer essa. E num súbito surto de raciocínio, decidi que iria traseirar um buzu.

Malditas almas, #VoDorme porque amanhã vou atrás de um estágio que me pague mais do que 1 salário mínimo. Me desejem sorte. #AssimEspero27 Mar via web

O quão ingênuo fui na noite anterior...

Como eu havia falado, foi somente um surto. Até mesmo pensar numa desculpa para dar ao cobrador, enquanto o ônibus fecha a porta e arrasta me obrigando a descer no próximo ponto, foi algo difícil naquele momento. Subi no primeiro que vi e joguei o migué. Como esperado, o ônibus seguiu o seu caminho me deixando trancado no seu interior. Mas eu não esperava que ele não passasse no ponto do outro ônibus que eu havia perdido. Nesse momento, eu já estava tão cansado que não tinha nem vontade de ficar irrtado. Desci no ponto subseqüente, mas não me rendi ao destino. Resolvi que iria traseirar outro até chegar onde eu queria. Olhando os outros ônibus passarem, eu não conseguia raciocinar uma desculpa plausível. E mesmo as que eu conseguia pensar, na verdade não eram desculpas. Ficaria algo assim:

- Esse ônibus passa no comércio? - Ao adentrar num ônibus que tinha escrito Terminal da França (que, coincidentemente fica localizado no comércio).

Minha cara-de-pau não é tamanha para tal. Mas, out of the blue, surgiu um ônibus que estava perfeitamente cheio para o meu golpe. Entrei e percebi que o cobrador tinha cara de bundão. Fiqeui lá no fundo bem feliz, pensando que alguém iria pará-lo no ponto seguinte. Não foi o que aconteceu. Toda a minha felicidade ao vê-lo foi se transformando em pavor, à medida que ele ultrapassava cada ponto sem mesmo parar. Eu já estava tentando imaginar em que ônibus eu estava e pensando como eu iria voltar do seu destino. Quando chegou no último ponto de interseção entre o que eu queria e o que eu estava, a porta miraculosamente se abriu e eu desci tão afoito pra fora quanto tartarugas marinhas descendo pro mar, após nascerem.

As pessoas do ponto me olhavam desdenhosamente, mas eu não fazia a mínima questão de levá-las a sério. Esperei pelo meu precioso ônibus. Eu já não via mais nenhuma palavra completa. As letras dos ônibus se embaralhavam de tal forma que parecia que tinha alguém num jogo de Scrabble com elas. Só sabia que estava pegando o ônibus certo por causa do número. Ao entrar no ônibus encontrei um lugar e me sentei. Apaguei. Só voltei a acordar perto do colégio. E um pouco melhor do enjoo. Minha odisseia terminou.

Moral da História: Desista enquanto é tempo.

PS: Tudo terminou assim sem pé nem cabeça porque eu já tenho quase duas semanas aqui sem escrever nada porque tinha que terminar esse texto. Como eu já tava de saco cheio, finalizei de qualquer maneira mesmo.

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