domingo, 12 de agosto de 2018

Meu Pai

Certa vez, durante um conflito de opiniões, na faculdade, um amigo citou algo que me faria repensar sobre toda filosofia de vida que eu tinha até então. Ele simplesmente disse:


"O mundo não é justo" 

Esta simples proposição se encaixou perfeitamente, como a engrenagem que faltava, em diversas situações em que me deixavam profundamente irritado ou mesmo frustrado por, aparentemente, não haver a predominância daquilo que é bom sobre aquilo ruim. E um pouco mais tarde, pensando mais sobre o assunto, fiquei a me indagar se somos levados a pensar dessa maneira em virtude dos livros, filmes e histórias que, em sua maioria, nos saciam com seus finais felizes ou de vingança merecida, ou se isso é algo intrínseco à essência humana, que busca a todo momento a coesão lógica de que "se o bom é melhor que o mau, e se são feitas coisas boas, o final tem de ser bom". Seria até mesmo a base fundamental do carma. Deixo que você reflita também, apesar de acreditar que a primeira hipótese alimenta a segunda, sendo esta a razão deste sentimento existir.

Mas o que tem a ver este homem sorridente, vestido como o Steve Jobs, na abertura do post com o que eu estava falando há instantes?

Tudo.
A primeira/mais antiga foto que temos juntos.

Este é meu pai, Raymundo Oliveira Brunelli, também conhecido como "Koka", pelos mais íntimos.
Foi ele quem também me criou, me ensinou as básicas "coisas de homem" e também serviu como modelo para me tornar a pessoa que sou hoje.

Infelizmente, no meio deste ano, foi acometido por uma doença, vindo a falecer muito pouco tempo depois, mais especificamente às 23h22min do dia 31/05/2018.

Nunca pensei que iria sentir tanta saudade desse abraço.

Para quem o conheceu em vida, se perguntado como ele era, essa pessoa certamente se esbarraria na palavra "bondade". Era inevitável. Dentre todas as suas qualidades, ou mesmos seus defeitos, a bondade era algo que se sobressaía muito facilmente. Era uma pessoa que se doava às outras sem o menor sinal de descontentamento, até mesmo se isso o prejudicasse de alguma maneira.

Muito mais do que o sangue.

Levava a vida da maneira mais leve possível. Não se prendia aos bens materiais, tampouco às questões supérfluas. Sempre para cima, com uma felicidade radiante. Amava futebol e religiosamente acordava às 4h da manhã de todos os domingos para garantir sua vaga no Baba da Madruga. Seu time do coração era o Bahia, mas não sei por que razão, adorava também o Palmeiras.

Sempre feliz assim, com uma bola no pé.

Sempre distribuiu amor e carinho não só aos seus dois filhos, mas para quem se encontrasse ao redor. Era chamado por alguns de "Tio Koka", mas aquele "tio" estava mais para um pai. Quem o chamava assim, sabe do que estou falando. E aqui entra o porquê de eu ter citado aquilo no começo do texto: como pode ser justo um mundo no qual permite que uma pessoa assim se vá? Ainda mais em tão terna idade?

A última/mais recente foto que temos juntos.

Por estar sempre de bom humor, me ensinou, mesmo que inconscientemente, que a felicidade é ver o lado bom das coisas ruins. Talvez tenha partido tão rápido, porque não suportaria enxergar a dor ou o sofrimento nos olhos daqueles ao seu redor, apesar de não ter-lhe faltado esperança em qualquer momento.

É claro que eu gostaria de escrever mais sobre ele, ter falado mais, de ter estado mais com ele, de o ter abraçado mais. Mas agora eu simplesmente não consigo. C'est la vie. E só me resta aceitar.

Este é o meu primeiro dia dos pais sem ele. É extremamente ruim.

PS: Desculpe-me se houveram quebras de continuidade, frases mal acabadas ou erros de qualquer natureza, mas é impossível revisar um texto soluçando.

3 comentários:

  1. Lindo texto primo, extremamente verdadeiro. Acompanhei tudo de longe e de perto ao mesmo tempo, e ainda hoje sinto o nó na garganta ao pensar que ao voltar ao Brasil, não mais escutarei aquele carinhoso “tia!”. Realmente ele foi um guerreiro, sempre esperançoso. Pessoa do bem, um tio maravilhoso que tem deixado muita saudade! Sempre me mandava mensagem perguntando de Pietro. Também não compreendo, primo, como funciona a vida, porque é difícil entender como uma pessoa tão amável e querida partiu tão cedo. Tio Koka, nós te amamos e nos lembraremos de você com extremo carinho sempre! Fica em paz, meu primo-irmão querido! Muito emocionante o seu relato. Te amo.

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  2. Realmente Tássio! Toda vez que penso em eu pai so penso em coisas boas e em monentos bons. Era uma pessoa extremamente do bem, intelectual que você conversava qualquer assunto e ele tinha sempre opiniões construtivas, ate quando discordava de certos assuntos. Não estou no Brasil, mas sinto muita falta dele daqui, pois mesmo longe ele conseguia ser presente. Abraço!

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  3. Ele deixo muitas saudades e quando vim saber já foi na missa de sétimo dia triste 😭😭

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