segunda-feira, 15 de junho de 2015

ODAMM: O Dia em que Acordei no Meio do Mar

Depois de eternos [insira uma grande quantidade de tempo aqui] retorno a atualizar esse blog. Percebam que isso está se tornando um paradoxo: estou a todo momento escrevendo acerca de que não escrevo nada. Melhor parar com isso.

Então vamos ao que interessa (ou não interessa, mas já que você leu até aqui, irei supor que eu esteja falando de alguma coisa interessante) e hoje eu vou contar uma das minhas muitas histórias da adolescência: O Dia em que Acordei no Meio do Mar (doravante denominado ODAMM, porque é um saco digitar isso).

Lembrando que este se trata de um relato não tão grande, mas cansativo e mal escrito, então se você não estiver disposto a perder preciosos 15min de sua vida, pare imediatamente. Caso você seja realmente um masoquista, pode continuar por sua conta em risco.



Prólogo

Antes entrar de cabeça na história, preciso situar as pessoas que não moram em Salvador e Região Metropolitana para o que acontece na época que o sol resolve se aproximar do hemisfério sul. No verão soteropolitano, existem dois lugares que julgo ser o refúgio da quase totalidade dos habitantes daquela cidade: O Litoral Norte, uma espécie de Região dos Lagos em menores dimensões, e a Ilha de Itaparica, ou simplesmente A Ilha, que se eu pudesse comparar com algum lugar, seria como Santos é para São Paulo: qualquer período superior a 2 dias sem trabalho, o povo corre pra lá, congestionando suas vias, o que no caso da ilha não é uma situação nada agradável, visto que o principal jeito de chegar nela  é através de um barco de ferro, cuja alcunha é Ferry Boat e que carrega por volta de somente 30 carros de passeio (esse número varia em função da quantidade mulheres que estão dirigindo, e consequentemente, estacionando na embarcação), num trajeto de aproximadamente 1h sobre a Baía de Todos os Santos.


Saudoso Férri-bôti

Outra coisa interessante a mencionar é que, de forma semelhante ao que acontece com Rio de Janeiro e a Região dos Lagos, muitos familiares possuem segundas casas na ilha, então é bem comum você ser convidado pra passar um fim de semana estendido na localidade ou mesmo até "alugá-la" de um tio/primo/avô/etc para o período.

Situem-se

Agora devo apresentar alguns personagens. Primeiramente meu fiel escudeiro, Sancho Pança o Mestre Wu (os nomes foram preservados porque minha cota de mimimi em meu ouvido nesse ano já estourou). Em seguida vem o Primo. Tecnicamente ele não é meu primo, provavelmente trata-se de um "cocunhado" ou qualquer parentesco que só a Tititi poderia criar, visto que ele é namorado de minha prima. E por falar desta, se a mesma ocorrer no meu breve relato, será denominada Ursa Maior, e sua irmã menor, logicamente, Ursa Menor. Depois temos meu irmão, o Gordo. A Luísa (essa sim tá com o nome original, em virtude de eu não ter sequer contato algum dela. Acontece que excluíram o orkut e eu esqueci de adicioná-la em qualquer outro lugar. Luísa, se estiver lendo isso, por favor não me processe). E por último, LdC, um amigo meu. À medida que forem necessárias outras apresentações, as farei em momento oportuno.


Capítulo 1: A Ilha

Ilha, janeiro de 2010. Naquele verão, minha mãe pegou emprestada a casa de minha tia para passar uma parte da estacão. A mãe de minhas primas tem uma casa perto. Assim, na noite do dia 08, lá estávamos eu, Mestre Wu, Primo e Ursas Maior e Menor jogando cartas e conversa fora. Eis que surge à mesa, em meio aos pacotes de batata da onda, o comentário de que o aniversário da ilha seria naquele dia, além da animação do pessoal para comparecer ao evento.

As festas de rua ocorrem durante todo o verão e, logo no aniversário da localidade, não seria diferente. Não lembro ao certo que banda se apresentara no palco montado àquela época, mas deveria ser algo tipo AiCarlen Wesley Safadão. Então aquele convite para a festa parecia obedecer a Síndrome de Pará: fenômeno observado por mim e que tem por base que todo show de uma banda com padrões questionáveis de qualidade, principalmente no quesito letra, atraem as mulheres mais lindas do planeta. A primeira vez que me dei conta de tal situação foi num show do KY Calypso (por isso a origem do nome) que vi passando na TV. Não sei ao certo se o câmera-man quis me enganar, mostrando somente as tchutchucas, mas a ideia de que o seguranças do evento fazem algum tipo de seleção no público ficou em minha cabeça. Atentem-se para o fato de que este mesmo fenômeno pode ser facilmente observado em shows de sertanejo universitário. Ou seja, verdade absoluta.

Ctrl-C Ctrl-V

Primo então se deu conta que o tempo urgia e foi tomar um banho para sair. Ele já havia decidido ir, junto com as Ursas. Eu estava nitidamente inclinado a ir também, afinal um show de Chimbeto Hermión e Seus Cavacos, com uma plateia de aparências generosas conseguia abrir um leve sorriso no canto da boca. Mas enquanto eu pensava se iria ou não, com o Mestre Wu em meu ouvido sussurrando para que eu fosse, igual àqueles ícones anjinho vs diabinho muito comuns em desenho animado, com a única diferença de que nesse caso só havia o diabinho, adentra pela porta da frente o icônico meu Padrasto. Este por sua vez, abre a geladeira, saca um vinho e sua rolha, e oferece a nós. O Mestre Wu nunca foi um amante do vinho, então só eu aceitei. 15min depois a garrafa já tinha acabado e, por outro lado, havia apenas começado a minha saga de bebedeira naquela noite.

Já com minhas faculdades mentais levemente amaciadas e com a "promessa" de que o lugar teria gatinha implorando pelo meu porco nu (se não me falha a memória, Primo e Mestre Wu utilizaram isso como argumento para que eu aceitasse ir) eu levantei da cadeira, dei um tapa na mesa, como se estivesse a defender um discurso revolucionário ou simplesmente a aceitar algum desafio (vulgo "tapa da coragem"), eu disse: "Eu vou!". Neste instante, Primo aparece na sala e, não sei bem se para comemorar ou não, abre outra garrafa de vinho, parecendo não notar a ausência da primeira.

20 ou 30 minutos depois, mas em perfeita sincronia com o término da segunda garrafa, houve-se uma buzina do lado de fora. Eu não fazia ideia que tinha alguém pra chegar. E nem tinha pensado na maneira como iríamos para o evento. Outro fato que esqueci de comentar é que o transporte público em Salvador é um dos piores do mundo, ficando atrás somente dos lugares onde não há transporte público. O cara que há poucos surgira era quem nos levaria para o epicentro da bagaceira.

Eu não lembro muito bem a aparência do indivíduo, mas não esqueço que ele adentrou a residência portando uma garrafa de batida em uma das mãos e alguns copos na outra. Eu peguei um dos copos e completei-o com o que aparentava ser suco de graviola misturado com Kenikov, Stolinov ou qualquer outra água-russa de invólucro plástico. Rumei em direção à saída e fui para a outra casa colocar uma roupa melhor.

Lembre-se de nunca ingerir qualquer tipo de álcool que venha em garrafas plásticas.

Quando cheguei, deixei o copo de purgante na estante e fui para o quarto. O Gordo, se aproveitando da situação de descuido momentânia, misturou um pouco mais de vodka no recipiente, confirmando aquela máxima de que gordo só faz gordice (ele me contou o que fizera no dia seguinte). Peguei o copo e, sem notar que o mesmo ganhara alguns mililitros, voltei pra casa do Primo para finalmente cairmos no mundo. Achei o gosto da bebida um pouco estranho, mas em se tratando de suco de graviola com a vodka mais barata que o capitalismo pode oferecer, "um pouco estranho" era o melhor adjetivo que aquela bebida poderia sonhar em ter.



Retornando ao lugar do começo deste relato, deparei-me com a casa totalmente fechada e todos figurantes desse pequeno teatro documental repousados em seus devidos assentos no veículo. Meu lugar no carro não era um dos melhores, principalmente pelo fato de que legalmente nem se tratava de um lugar. Eu e o Mestre Wu fomos no porta-malas, com a leve sensação de nos tratarmos de contrabando ou de imigrantes ilegais tentando cruzar a fronteira americana. Nossa sorte foi o carro tratar-se de uma Doblô, logo seu porta-malas era mais confortável que o carona de muito carro vendido nesse país. Resolvi repensar minha afirmação quando passamos por uma série de quebra-molas, sendo o primeiro atingido pelo veículo a uma velocidade de mach 2, ocasionando uma cabeçada no teto e, no mínimo, um palavrão por cada um dos integrantes de bordo.


Capítulo 2: A Festa

Chegando na festa, e com o nível de álcool no sangue suficiente para não saber se pararam o carro perto ou longe da praça principal, eu e o Mestre Wu caminhamos, cantando e seguindo a canção, em direção ao palco principal. Ao chegar lá, nos deparamos com uma infinidade de barracas com os mais diversos produtos e serviços. Tudo aparentemente bem organizado. Barracas de bebidas lado a lado. As de comida, idem. O letreiros das barracas me chamavam muito a atenção, pois exibiam nomes de iguarias até então desconhecidas por minha pessoa. Nomes como Nevada, Xoxota, Capeta Príncipe Maluco poderiam ser avistados no alto das barracas.

Antes de dar prosseguimento ao conto, necessito apresentar (ou para alguns, apenas lembrar) as fases da bebida:


1ª fase: Alegria - você começa a rir de coisas bobas.

2ª fase: Negação - apesar de você estar pra lá de Bagdá, você continua falando que está sóbrio.

3ª fase: Amizade - você começa a ficar amigo de todo mundo: do barman, do tio, do mendigo, dos inimigos…

4ª fase: Cegueira - essa fase é muito PERIGOSA pois nesse momento você já começa a achar todo mundo bonito…

5ª fase: Invisível - nesse momento, você acha que está invisível e que ninguém está te vendo, portanto, faz cagadas achando que ninguém nem percebeu, quando na verdade todo mundo está te olhando.

6ª fase: Momento da verdade - perigoso pois você começa a dizer as verdades pra todo mundo. A bebida entra e a verdade sai.

7ª fase: Nostalgia - nesse momento você chora dizendo que todo mundo ali é seu amigo do peito e não sabe o que faria sem eles, é nessa fase também que as pessoas começam a ligar para ex namorados(as).

8ª fase: Línguas - é a hora de falar inglês, espanhol, aramaico...

9ª fase: Depressão.*

10ª fase: Amnésia - Depois de TODAS as merdas feitas, você não se lembra de nada.

*essa fase só se manifesta em pessoas que cresceram sendo alimentadas com leite com pera, jogando bola-de-gude no tapete da sala ou empinando pipa no ventilador. Em outras palavras, isso é coisa de fresco.

A esta hora da noite, eu provavelmente estaria entre a fase 5 e 6, mais especificamente numa sub-fase denominada (por mim, é claro) de Superman. Ou seja, aquele indestrutível, com a capacidade de realizar qualquer feito. Aquele que acha pode tudo.

Encontramos uma barraca do tiro e resolvemos tentar acertar alguma coisa. O Mestre Wu foi na frente e tentou atirar nas caixinhas de mentos dispostas uniformemente num anteparo ao fundo da barraca. Ele parecia uma criança vendada jogando quebra-pote. Dava pra ver que ele tinha potencial, carregava a arma certa, mas o principal ingrediente, a precisão, estava tão escassa quanto extintor ABC. Então, depois das ridículas tentativas do meu fiel escudeiro, eu decidi tentar, me gabando de que acertaria um pernilongo se o mesmo ousasse pousar em uma das caixas.

Para a nossa surpresa, eu tinha baixado o santo do Sidney Magal Steven Seagal e tava acertando caixinha a torto e a direito. Não era só acertar qualquer caixa. Era acertar a que eu quisesse ou a que a platéia pedisse. Hoje, tenho quase certeza que a mira estava desregulada e a vesguice alcoólica compensava esse desajuste. É importante ressaltar que eu estava me achando o maioral, pagando R$2,00 pra acertar e ganhar um pacote de halls que custava R$0,80.

Steven Magal: Quero ver você dizer qual é qual

Depois de atirar pra todo lado, o Mestre Wu deu a ideia de atirarmos pra todo lado. Dessa vez nos brotos, o que era o suposto motivo de estarmos lá. Passamos a andar por aí. Incrivelmente, encontramos LdC igual a uma barata tonta, olhando para todos os lados. Paramos pra falar com ele e ele disse que havia se perdido do grupo com o qual viera junto. Entrou na nossa equipe e fomos em busca dos seus coleguinhas. (Quase um RPG, né?)

Esqueci de mencionar que a noite inteira foi literalmente regada à Príncipe Maluco. Se você ainda não sabe o que é, vou te explicar: Imagine uma bebida cuja composição seja tão desconhecida quanto a composição dessa latinha vermelha com uma listra branca que vos enfeita a mesa, que tenha um nível alcoólico capaz de fazer funcionar um carro flex SEM sequer uma falha no ciclo motor, mas que tenha um gosto tão forte e singular que se faz necessário se abster do mesmo para que não cause um refluxo. Pronto, está definido o Príncipe Maluco. Um líquido horrível, de alto teor alcoólico e que é servido com uma fatia (?) de limão coberto de leite condensado ou açúcar. O mais interessante é que quando o cara te vende a dose, ele dá uma pequena instrução de que é necessário primeiro lamber o leite condensado/açúcar e DEPOIS chupar o limão. Como se fosse humanamente possível chupar o limão antes de lamber o doce.

Essa desgraça custa R$1,00 a dose

Agora quero abrir um parêntesis na história (

Pronto, consegui :P

Sério. Real. Estou abrindo um parêntesis aqui por simplesmente não poder relatar com impetuosa fidelidade os acontecimentos entre a chegada de LdC e a chegada ao mar. Algumas fotos até tentam dar uma pista dos eventos ocorridos naquela noite, mas não são extremamente esclarecedoras acerca do causo. Entretanto, me lembro muito bem que caminhava entre a multidão e, de repente, tinha me perdido do Mestre Wu e de LdC. LITERALMENTE, num piscar de olhos, eu estava conversando com o Primo. Sim, bastou eu piscar os olhos e estava de frente com o pessoal que eu não via desde o começo da festa. A partir daí, todo o resto da noite se deu por meio de flashs.

Tenha certeza de que fui significativamente
responsável por esvaziar aquele galão

Acho que fui a primeira pessoa a passar da 10ª fase da bebedeira. Tenho plena convicção de que a 11ª se denomina Flash e consiste na capacidade de se transportar de um lugar para o outro, apenas piscando os olhos. Talvez nenhum outro humano tenha chegado a essa fase e sobrevivido para contar a história.

Créditos: Will Tirando

Capítulo 3: O Mar

Primo falou comigo e disse para eu chamar o Mestre Wu para irmos embora. Pisquei o olho e estava na frente do Mestre. Disse a ele que o Primo nos chamou e, ao repousar minhas pálpebras de modo instantâneo mais uma vez, percebi que todo aquele barulho havia sumido. Estava um silêncio como eu não ouvira há séculos.

Uma sensação de conforto, de calmaria. Nesses breves microssegundos eu havia descansado e relaxado mais do que muita noite de sono que já passei. De repente, sinto uma mão me puxando pela cabeça e vejo a água escorrendo e se afastando do meu rosto. No mesmo instante, a mesma mão que outrora me puxava em um movimento brusco, agora se encarregava de me devolver às profundezas do oceano.

Não achei foto alguma que se descrevesse bem a imagem
que tenho daquele mar à noite. Essa é a que mais se aproxima

"Pára!" (Sim, eu disse desse jeito porque naquela época ainda tinha acento) "Você tá tentando me afogar?" , eu indaguei o assassino desconhecido. Após analisar a situação brevemente, vejo que aquela mão pertencia ao Mestre Wu, que sorria por me ver reagir à tentativa de homicídio. "Man, você se desligou dessa dimensão. Pensei que havia entrado em coma", ele me disse depois de perceber que algumas funções somáticas haviam se manifestado em minha pessoa.

Olhei em volta e podia ouvir o som de sinos badalando à distância, provavelmente provenientes de alguma bóia de navegação ou algo parecido. A água salgada em volta não me deixara dúvida alguma: eu estava dentro do mar. É claro que eu não deveria estar tão surpreso, pois eu fui para uma festa em uma ilha, cuja principal característica é ser rodeada de água por todos os lados.

E por falar em água, esta não estava fria nem quente naquela noite. Na verdade, eu acredito que não seria capaz de afirmar nada que dependesse da minha capacidade sensorial porque 1- eu não conseguia sentir as marolinhas que insistiam em se chocar com o meu peito 2- corria álcool em meu sistema circulatório. Provavelmente, a presença de sangue é que faz com que se ative as percepções sensoriais.

Mas assim como houvera ocorrido nos últimos parágrafos desse conto, bastou um piscar de olhos para que eu não estivesse mais dentro d'água, mas sim lá fora discutindo sobre algo trivial, e outra piscadela para que eu estivesse deitado em minha cama, dormindo feliz feito um peso de porta (se é que pesos de porta têm essa capacidade de ficarem felizes...).

Com certeza não foi piscando os olhos como eu saí de lá

Epílogo

Acordei no outro dia ainda bêbado. Enquanto eu tomava banho, sentia meu braço formigar e boa parte do corpo ainda dormente. Uma dor-de-cabeça catastrófica se apoderou do meu mesencéfalo assim que permiti que raios solares atingissem o cavado da minha retina. Mestre Wu havia bebido também, mas parecia muito bem e sem sinal algum de ressaca.

Meus pais apareceram e fomos para a praia. Tive que mergulhar incontáveis vezes neste mar que outrora me abraçara para que finalmente o álcool me desse um descanso. E enquanto a água gelada curava minha dor-de-cabeça, o Gordo e o Mestre Wu se divertiam relembrando a noite.



PS1: Boa parte deste relato foi digitado em um tablet, então se houver qualquer erro de digitação, saiba que foi culpa do tôuti-escrim
PS2: Era "Med Dog" [sic], mas não tinha nada de medicinal
PS3: Uma versão do Photoshop
PS4: Se beber, não dirija.

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