quinta-feira, 30 de junho de 2011

Peregrinação em anel

Nesse São João eu dei o maior ninja da minha história (Entenda por "ninja" como sendo a arte contemporânea de esvair-se dos interessados, de maneira repentina e sem deixar traços). Enquanto todos pensavam que eu estaria na pacata cidade município reduto de Terra Nova, eu arrumei minhas malas, pus o pé na estrada e parei no Rio de Janeiro, mais especificamente na milenar cidade de Centopeia Seropédica. (talvez tenha sido o maior ninja, porque até eu estava acreditando que iria para New Land)

Diferentemente da outra viajem ao Rio, dessa vez eu não fui de avião, mas de ônibus. Pense em você, de cabeça pra baixo, com baratas caminhando pelo seu corpo, num frio de -20ºC, ao som de uma maquininha de dentista e com vontade de mijar. Desconfortável? Foi mais ou menos assim passar 36 horas dentro de um ônibus. As consequências desse confinamento são terríveis. Nas primeiras horas você olha incessantemente pela janela. Nas seguintes, hiberna. Ao final de 30 horas de incansáveis dorme-acordas, você já não sabe mais que dia é hoje nem que horas são. Percebe que acabar com as florestas do Brasil é quase impossível. Começa a filosofar sobre a vida e conclui que o leito, com milhares de botões e ajustes, é miseravelmente falho em se tornar confortável de qualquer maneira que seja.

Causa mais arrepios que uma serra elétrica

Aconteceram algumas paradas no caminho e, entre elas, estava a rodoviária de Feira de Santana. Lá eu entrei no banheiro e, de repente, um cara falou: R$1,00. Em vez de olhar com desdém pro rapaz, sorri marotamente e soltei o velho "Cê tá com a mão limpa?", saindo do recinto antes que qualquer objeto pusesse me alcançar.

Algum problema, sr. cobrador de banheiro?

Com algumas horas de viagem, todos estavam inteirados mutualmente. Bolaram uma brincadeira de "anjo", que consistia em sortear, de maneira semelhante a um amigo secreto, "anjos" pelo ônibus. Todo mundo era anjo ou protegido de alguém. O papel do anjo era proteger, ajudar ou agradar o seu protegido, tornando a brincadeira agradável. No começo, choveram chocolates para a maioria dos participantes, exceto pra mim. Eu comecei a xingar, polidamente, meu anjo. Mas pareceu não funcionar. Fui dormir.

Acordei em meio a comentários do tipo "Chegamos!". Olhei para o relógio e vi que eram 6h20 da manhã, porém não tinha nenhuma sombra de sol. Peguei minhas coisas e fui para o alojamento. Ironicamente, nos colocaram no alojamento capoeira. Ops, eu acho que esqueci de falar pra onde fui. Fui para o 1º Congresso da ANEL, que contou com mais de 2 mil estudantes oriundos de todo o Brasil, na UFRRJ, em Seropédica. Pronto, só isso.

Apesar de a UFRRRRJ ser imensa, abrigar mais de 8000 2000 estudantes não seria algo confortável. Logo de cara pude perceber isso, pois não foi servido o café da manhã naquele dia. Só que, para a minha surpresa, recebo um bilhete que tinha escrito assim: "Para você comprar um doce. Seu Anjo". Quando abri, tinha dinheiro dentro, o suficiente pra eu tomar meu café e comprar um doce. Não sei onde meu anjo mora, que o doce é tão caro. Mas de todos o presentes, esse foi o melhor.

Eu vou continuar esse texto. Não sei quando, mas vou. Estou com sono e sem saco pra escrever. Adiós!

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